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Desde que voltei não me encontro mais. Não há baleias nessa região. As vezes sinto que desenvolvi algum tipo de trauma. Não vejo baleias mortas ao meu redor, mas sinto o peso de seus ossos em meus ombros. Poderia dizer que matei três caxalotes nos últimos meses e fui feliz quando o fazia. Mas hoje, não me emociono com a natureza que vejo ao meu lado.

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Procuro caçar baleias (ou tentar encontrá-las) com alguns senhores que habitam na região costeira, mas eles não se lembram mais como caçar. Esqueceram. Uma pena. Caçar baleias é essencial para existencia de cada ser humano. É o que penso. Lembro-me de minha juventude quando corria e me perdia. Reencontrar nunca foi uma questão.

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Caçar baleias não se trata somente de sair ao mar e ter tubarões ao seu entorno querendo lhe matar, mas consiste no simples ato de sair à algum lugar. Gostava da sensação quando estava dentro da água, ao cair do barco sem-querer ou ao me divertir com meus amigos. Não pensava em nada, respirar por bolhas era automático e o cansaço só aparecia quando retornava a superficie. Costumava mergulhar até as profundezas, fazia amizades com as algas e peixes, os pequenos peixes que também fugiam de tubarões. Não havia sentimento. Não havia pensamento. A dispersão era a unica sensação existente. Não estava perdido ou confuso, mas me encontrava em um estado onde tempo e espaço não existiam. Não havia sentido e por isso não havia necessidade se reencontrar…as vezes perdia até mesmo o interesse nas baleias, talvez fossem meus momentos mais felizes.

 

Agora, sem baleias os mergulhos também diminuíram. Minhas amizades desapareceram. A paz que sentia junto as ondas e aos sons do vento, não existe mais. Caçar baleias nunca mais foi o mesmo.